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terça-feira, 2 de março de 2010

O Segredo do Mar



Um dia acordei e tive a doce sensação de liberdade, o céu era tão azul que minha janela parecia pequena, limitava minha visão, eu percebi que estava com sede de tudo, queria todos os ângulos, todas as cores, mas a janela me continha. Desci do apartamento , caminhei dois quarteirões e corri para a imensidão azul, eu já não sabia se era mar ou céu, só queria me unir a eles, no curto espaço de tempo o céu já não se unia ao mar, nuvens carregadas, acinzentadas, sons de trovão, um verdadeiro canto da natureza, eu mal começara entrar em delírio, quando a primeira onda me arrastou, fechei bem os olhos e lembrei da primeira vez que me levaram ao mar, era ainda pequeno, mas lembro de cada detalhe, cada aroma, tudo parecia ser bem maior do que realmente era. Eram tantos adultos, eu olhava tudo de baixo, puxava a saia da tia Beca e olhava com olhos pidões, ela logo me fazia um cafuné, me colocava em seu colo, quantos cheiros diferentes eu sentia, mas ficava calado, achava que se comentasse perderia aquilo, sempre tive isso comigo, um certo egoísmo advindo de um medo sempre tão infantil. Foi numa dessas travessuras de criança que eu desci das pernas de tia Beca e fui de encontro ao meu destino, determinado corri, sua fúria me atraia mais que os cheiros do colo de minha tia, ao entrar ouvi a voz de tio Carlinhos, mas já não havia tempo à perder, eu precisava entrar e descobrir o segredo do mar. Acordei com todos os adultos a minha volta, tia Beca chorando muito, dando graças a Deus porque eu estava bem, meus pais chegaram, me abraçaram forte, muito forte mesmo, eu nem entendia aquela situação, só conseguia pensar nele, no segredo que fui buscar e não achei, talvez tenha sido pelo pouco tempo que tive. Abro os olhos e me sinto leve, aqui não tem mais ondas, eu estou sendo levado ao segredo do mar, o sol que bate em minha face de meia- idade, tenta me persuadir a nadar, a voltar, mas eu que desde a infância esperei, não posso mais esperar, eu que passei metade da vida, ou talvez ela toda, a divagar em pensamentos, me alimentava apenas das recordações daquele dia, agora estou aqui, cada vez mais perto, não tenho mais forças para me acovardar, agora tenho a coragem dos que não tem escolha nenhuma. Fecho os olhos devagar, estão semicerrados, entrarei de vez no segredo do mar, e não tenho medo, estou pleno, não penso em nada. De repente sou despertado por um salva-vidas, mais uma vez me roubam a coragem , deitado no chão ,olho as pessoas a volta, olhares curiosos, um até chamou-me louco. Mas eles são apenas adultos, como aqueles de minha infância, nunca entenderão o que sinto diante do mar e meu desejo de absolvê-lo. Pensei que talvez aos noventa anos eu tenha o impulso novamente, e então poderei saber que segredo me aguarda, tão frio e silencioso como todo segredo guardado no mar deve ser.

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