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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A Cozinha Vazia.

Andava inquieto, sentia uma velha coceira atrás da nuca, não sabia bem como terminaria tudo,sabia que precisava terminar. Ela provavelmente o estaria esperando na varanda, o aroma de café quente na mesa, pão fresquinho, o canto que já era dele, tudo naquele ambiente o esperava, como se não bastassem as expectativas de uma mulher que o amava, o lugar agora também tinha o poder de despertar o sentimento de expectativas sobre ele, sentia que tudo seria desespero e solidão sem sua presença, tinha piedade não apenas de Eugénia, mas da mesa, da cadeira, do café quente, da cozinha vazia, aquilo lhe sufocava o peito. A imagem de uma mulher na varanda o esperando não o comovia tanto, quanto pensar no pão que o esperava com anseios de ser devorado, o café que certamente adoraria esquentar-lhe o corpo.
Como um refrão que se repete, assim passavam seus dias, era monotonia, era escassez,falta de assunto, talvez; não teria outros braços para lhe acolher, ninguém o esperava em outra casa, nada lá fora lhe pertencia, mas Eugénia lhe dava vontade de sair, simplesmente por ser ela, a moça que casou-se virgem, que só amava a ele,e que certamente nem tinha pensamentos de abandono com relação a ele. Tranquila, criatura quase que inacreditável de se conceber, a culpa o estrangulava a cada minuto do dia, mas a vontade de ir o consumia ainda mais.
Em uma tarde muito longa, daquelas que olhar o relógio só nos faz ficar mais bucólicos, ele decidiu, teve certeza, mas o que é a certeza meus caros, talvez seja o cansaço de tanto procurar respostas, quando resolvemos simplesmente definirmos , seguirmos, sem hesitar, a principio, é claro. Toda certeza vem empurrada por inúmeros talvez. André saiu de casa como quem foge, foi sorrateiro, era agora um ladrão que só precisava ir para o mais longe possível , mas ao passar pela sala ele contemplou a cozinha, agora vazia, sem café, sem pão, sem nada. Doeu em seu peito covarde, mas agora tinha de sair.
Andou por tantas ruas,divagou em pensamentos cortados, a falta de sentido era a mesma, e agora como de ímpeto resolveu pegar o primeiro bonde, foi pra longe, dele, de Eugénia, da maldita cozinha que o prendera tantos e tantos anos, agora seria só ele. Ninguém mais o esperaria. Sentia algo novo que preferiu não definir, parecia que as luzes das casas que agora avistava, rápidas, trespassadas pela velocidade do bonde, faziam mais sentido que toda sua vida até aquele instante. Eram a elas, as luzes das casas que agora ele estava se agarrando, pelo menos por enquanto. Era tudo uma imensa vontade de viver.